Dra. Marina Campana – Pediatra Neonatologista e Pediatria integrativa

A icterícia neonatal acontece quando há um acúmulo de bilirrubina no sangue do recém-nascido — uma substância produzida naturalmente pelo organismo ao quebrar as células vermelhas do sangue.

Esse acúmulo faz com que a pele, mucosas e o branco dos olhos do bebê fiquem com um tom amarelado. Apesar de parecer preocupante para os pais (afinal, qualquer mudança em um recém-nascido assusta!), a icterícia é muito comum e atinge cerca de 60% dos bebês nascidos a termo e até 80% dos prematuros.

Na maioria dos casos, ela desaparece sozinha, mas é importante acompanhar com o pediatra para descartar formas mais graves ou que exijam tratamento.

Por Que a Icterícia Acontece?

Nos primeiros dias de vida, o fígado do bebê ainda está imaturo e não consegue eliminar a bilirrubina com eficiência. Por isso, ela se acumula temporariamente no corpo.

Esse tipo é chamado de icterícia fisiológica e costuma aparecer entre o 2º e o 3º dia de vida, atingindo o pico por volta do 4º ou 5º dia, e desaparecendo gradualmente até a 2ª semana.

No entanto, existem outras causas que também podem gerar icterícia, como:

                •             Incompatibilidade sanguínea (RH ou ABO) entre mãe e bebê

                •             Amamentação insuficiente (icterícia por aleitamento materno)

                •             Infecções ou doenças metabólicas/genéticas (mais raras)

                •             Parto traumático, com hematomas que aumentam a produção de bilirrubina

Por isso, é essencial que a avaliação da icterícia seja feita por um profissional capacitado — especialmente nas primeiras consultas após o nascimento.

Como Identificar a Icterícia no Bebê?

O principal sinal é a coloração amarelada da pele e do branco dos olhos. O aspecto geralmente começa pelo rosto e vai descendo pelo corpo. Às vezes, pode passar despercebido em bebês com pele mais morena, mas o pediatra sabe identificar mesmo nas formas mais discretas.

Outros sinais de alerta incluem:

                •             Sonolência excessiva ou dificuldade para mamar

                •             Irritabilidade incomum

                •             Urina escura e fezes muito claras (em casos mais graves)

Se qualquer um desses sinais aparecer, procure o pediatra o quanto antes.

Atenção ao Nível da Bilirrubina

Durante o exame clínico, o pediatra pode estimar o grau da icterícia. Em alguns casos, pode ser necessário um exame de sangue para medir os níveis de bilirrubina total e direta.

Os níveis aceitáveis variam conforme o número de dias de vida, peso ao nascer e se o bebê é prematuro ou não. Quanto mais alto o valor, maior o risco de complicações — especialmente se a bilirrubina alcançar o cérebro, o que é raro, mas pode causar kernicterus, uma forma grave e irreversível de lesão neurológica.

Por isso, o acompanhamento nos primeiros dias é tão importante: é nessa fase que as curvas de bilirrubina são monitoradas e, se necessário, medidas são tomadas rapidamente.

Quais os Tipos de Icterícia?

                •             Icterícia fisiológica: a mais comum, aparece nos primeiros dias e desaparece sozinha.

                •             Icterícia por aleitamento materno: surge por conta da pouca ingestão de leite nos primeiros dias, quando a pega ainda não está bem estabelecida.

                •             Icterícia do leite materno: ocorre mais tardiamente (após a 1ª semana), relacionada a substâncias do leite materno que interferem na eliminação da bilirrubina. Rara e geralmente benigna.

                •             Icterícia patológica: surge nas primeiras 24 horas, tem níveis muito altos ou se prolonga por mais de 14 dias. Precisa de investigação e tratamento imediato.

Como é o Tratamento da Icterícia Neonatal?

Na maioria dos casos, não é necessário tratamento — apenas o acompanhamento com o pediatra, estímulo à amamentação e hidratação.

Nos casos em que os níveis de bilirrubina estão mais elevados, pode ser indicada a fototerapia, um tratamento simples e eficaz que utiliza luzes especiais para transformar a bilirrubina em uma substância que o corpo consegue eliminar pela urina e fezes.

A fototerapia pode ser feita no hospital ou, em casos selecionados e seguros, até em casa com orientação médica.

Casos mais graves (raros) podem precisar de outros tratamentos, como exsanguíneotransfusão, mas isso é bem incomum hoje em dia, graças ao diagnóstico precoce.

Como Prevenir Complicações?

A melhor prevenção é a observação cuidadosa nos primeiros dias de vida. Isso inclui:

                •             Estimular o aleitamento materno frequente (idealmente, a cada 2-3 horas)

                •             Garantir que o bebê esteja urinando e evacuando normalmente

                •             Comparecer às consultas de rotina com o pediatra, inclusive nos primeiros dias após a alta hospitalar

                •             Observar mudanças no tom da pele e dos olhos do bebê, especialmente se for prematuro ou tiver histórico de incompatibilidade sanguínea

Quando a fototerapia pode ser feita em casa?

Nem todos os bebês com icterícia podem receber alta hospitalar com fototerapia domiciliar. Essa decisão depende de critérios clínicos e laboratoriais. A seguir, alguns fatores que tornam essa opção possível:

                •             Bebê com bom estado geral, mamando bem e com boa hidratação

                •             Icterícia leve a moderada, com níveis controláveis de bilirrubina

                •             Ausência de outras condições clínicas importantes

                •             Família capaz de seguir corretamente as orientações e com fácil acesso à equipe médica

A decisão sempre será feita pelo pediatra ou neonatologista, após avaliação cuidadosa.

Visite também o site “Luz da Pediatria” se você precisa ou conhece algum bebê que poderia esta fazendo fototerapia no conforto de casa e da família!

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