Dra. Marina Campana – Pediatra Neonatologista e Pediatria integrativa

O desenvolvimento da fala é uma das conquistas mais esperadas e emocionantes da primeira infância. As primeiras palavras, os balbucios e as tentativas de comunicação são marcos importantes não apenas para os pais, mas também para o desenvolvimento global da criança. Mas afinal, o que é esperado em cada fase? Quando devemos nos preocupar? E como os pais podem ajudar nesse processo?

Por que o desenvolvimento da fala é tão importante?

A fala é uma das principais formas de comunicação humana. Por meio dela, a criança expressa suas necessidades, desejos, sentimentos e pensamentos. Além disso, o desenvolvimento da linguagem está diretamente ligado a outras áreas do crescimento, como o aprendizado, a socialização e o comportamento.

Quando há atrasos na fala, esses aspectos também podem ser impactados, o que reforça a importância do acompanhamento desde os primeiros meses de vida.

Fase por fase: o que esperar do desenvolvimento da fala

Cada criança tem seu próprio ritmo de desenvolvimento, mas existem marcos esperados em cada faixa etária que ajudam a identificar se tudo está caminhando bem.

De 0 a 3 meses: os primeiros sons

                •             O que é esperado?

                •             Choro diferenciado para fome, dor ou desconforto.

                •             Reações a sons, como sustos ou movimentos ao ouvir a voz dos pais.

                •             Início dos primeiros sons guturais (como “aaaa” ou “eeee”).

                •             Como os pais podem ajudar?

                •             Falar com o bebê olhando nos olhos.

                •             Cantar e brincar com sons suaves.

                •             Responder ao choro com acolhimento e voz calma.

De 4 a 6 meses: balbucios e interação sonora

                •             O que é esperado?

                •             Produção de sons como “ba”, “ma”, “da”.

                •             Emissão de vogais combinadas (“ae”, “ao”).

                •             Resposta com sorriso ou vocalização ao ouvir a voz dos pais.

                •             Interesse por músicas e sons do ambiente.

                •             Dica importante: essa fase é marcada pelo prazer de ouvir a própria voz. Os bebês testam sons o tempo todo, o que é ótimo para o desenvolvimento da fala.

De 7 a 12 meses: as primeiras palavras podem surgir

                •             O que é esperado?

                •             Balbucios com entonação (como se estivesse conversando).

                •             Compreensão de comandos simples como “não” ou “vem cá”.

                •             Reconhecimento de nomes de familiares e objetos familiares.

                •             Primeiras palavras com sentido, como “mamã” ou “papá”.

                •             Como estimular?

                •             Nomear objetos durante as atividades (“Olha o patinho!”).

                •             Incentivar a repetição de palavras.

                •             Brincar com músicas que tenham gestos e palavras simples.

De 1 a 2 anos: explosão de vocabulário

                •             O que é esperado?

                •             Entre 12 e 18 meses: vocabulário com cerca de 5 a 20 palavras.

                •             Aos 2 anos: vocabulário com 50 ou mais palavras.

                •             Capacidade de juntar duas palavras (“mamãe dá”, “mais suco”).

                •             Compreensão de ordens simples com dois comandos (“Pega o brinquedo e dá para o papai”).

                •             Fique atento: nessa fase, mesmo que a fala ainda não seja clara, o conteúdo da comunicação deve ser compreensível para os pais mais próximos.

                •             Como estimular?

                •             Conversar bastante com a criança.

                •             Ler livros infantis com figuras e nomeá-las.

                •             Evitar o uso excessivo de telas, que pode atrapalhar o desenvolvimento da linguagem.

De 2 a 3 anos: frases e comunicação mais complexa

                •             O que é esperado?

                •             Formação de frases de 2 a 3 palavras.

                •             Uso de pronomes (“eu”, “meu”).

                •             Vocabulário com mais de 200 palavras.

                •             Participação em pequenas conversas.

                •             Clareza na fala aumenta, embora erros sejam comuns.

                •             Como ajudar?

                •             Manter o hábito da leitura.

                •             Conversar sobre as atividades do dia a dia.

                •             Incentivar a criança a contar histórias ou acontecimentos.

De 3 a 4 anos: linguagem bem desenvolvida

                •             O que é esperado?

                •             Frases mais longas e com estrutura.

                •             Clareza maior na fala (mesmo que ainda com troca de alguns sons).

                •             Contar histórias com começo, meio e fim (mesmo que de forma simples).

                •             Fazer e responder perguntas.

                •             Uso de plurais, tempos verbais e outras estruturas gramaticais.

                •             Importante: a maioria das pessoas fora do convívio diário já deve entender boa parte do que a criança fala.

De 4 a 5 anos: fala fluente e funcional

                •             O que é esperado?

                •             Clareza quase total na fala.

                •             Uso adequado da linguagem em diversas situações.

                •             Narrativas mais elaboradas.

                •             Capacidade de expressar sentimentos, opiniões e desejos com palavras.

                •             Poucas trocas de fonemas (como “r” ou “l”) — que, se persistirem após os 5 anos, podem merecer atenção.

Quando se preocupar? Sinais de alerta

É importante reforçar que cada criança se desenvolve em seu ritmo, mas alguns sinais podem indicar a necessidade de uma avaliação profissional. Fique atento se:

                •             Aos 6 meses, o bebê não reage a sons ou não vocaliza.

                •             Aos 12 meses, não emite sons variados ou não tenta se comunicar.

                •             Aos 18 meses, não fala nenhuma palavra com significado.

                •             Aos 2 anos, não junta palavras ou fala muito pouco.

                •             Aos 3 anos, a fala ainda é pouco compreensível mesmo para familiares.

                •             Aos 4 anos, há trocas de sons muito frequentes e dificuldades de formar frases.

                •             A criança parece não compreender comandos simples ou não interage verbalmente com outras pessoas.

Nesses casos, uma avaliação com o pediatra é fundamental. Ele poderá encaminhar a criança, se necessário, para acompanhamento com fonoaudiólogo, neuropediatra ou outros especialistas.

O papel do pediatra no desenvolvimento da fala

O pediatra é o primeiro profissional a acompanhar de perto o desenvolvimento da fala da criança. Nas consultas de rotina, ele observa marcos de linguagem, interações e respostas auditivas. Além disso, orienta os pais sobre o que esperar em cada fase e como estimular a fala em casa.

No consultório, também são avaliados aspectos como:

                •             Saúde auditiva (testes de triagem neonatal e, se necessário, audiometrias).

                •             Desenvolvimento global (linguagem, cognição, motricidade).

                •             Estímulos do ambiente (uso de telas, exposição à linguagem, interação familiar).

Como os pais podem estimular a fala de forma natural?

Aqui vão algumas dicas práticas que fazem toda a diferença:

                1.            Converse com seu filho desde o nascimento – ele aprende observando e ouvindo.

                2.            Descreva o que estão fazendo – durante o banho, troca de roupa, refeições.

                3.            Use palavras simples e claras – fale devagar e com entonação.

                4.            Leia livros infantis – mesmo que a criança ainda não fale, o hábito é valioso.

                5.            Evite o uso excessivo de telas – elas não substituem a interação real.

                6.            Brinque de faz de conta – estimula a criatividade e o uso da linguagem.

                7.            Dê espaço para a criança se expressar – não complete as frases, espere que ela tente.

Conclusão: cada palavra é um passo no desenvolvimento

Acompanhar o desenvolvimento da fala é uma forma de garantir que a criança esteja crescendo de maneira saudável, feliz e conectada com o mundo ao seu redor. Se você tem dúvidas sobre como está a fala do seu filho ou deseja uma avaliação mais detalhada, agende uma consulta com o pediatra.

No nosso consultório, estamos preparados para acolher, orientar e cuidar de cada etapa do desenvolvimento infantil. Ficaremos felizes em fazer parte dessa jornada tão especial com você e sua família!

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